Por Guilherme Cruz
Foto UFC
Foram seis vitórias até que Junior Cigano fosse escalado para disputar o cinturão dos pesos pesados do UFC, mas uma lesão do campeão Cain Velasquez forçou o brasileiro a esperar mais um pouco. Esperar? Cigano entrou em ação mais uma vez e massacrou o ex-campeão Shane Carwin, mostrando de uma vez por todas que está no caminho certo para conquistar o título dos pesos pesados.
“O Cigano é um atleta que está preparado para ser um campeão do UFC. Ele não teve luta fácil, lutou com os melhores e hoje merece lutar pelo título. É o sonho dele, é o meu sonho, e vamos com tudo. Vamos para ser campeões, se Deus permitir”, exalta seu treinador de Boxe, Luis Carlos Dórea, em entrevista exclusiva à TATAME, falando sobre a evolução do peso pesado, analisando o combate contra Carwin e, entre outros assuntos, rebatendo as críticas feitas a ele após a derrota de Demian Maia para Mark Muñoz.
Como está a expectativa para essa luta do Cigano contra o Velasquez?
Ótimas. É muito bom o atleta se testar. O Cigano está muito mais maduro, bem, fazendo um trabalho sério. Tudo que armamos taticamente conseguimos levar para a luta e conseguir um bom resultado. Ele mostrou um grande amadurecimento. Ele continua a ser um cara muito agressivo e inteligente. Lutando três rounds, ele aprende muito mais. Ele está muito mais maduro.
As lutas do Roy Nelson e Shane Carwin adicionaram muito à carreira dele. Hoje ele é um atleta muito mais maduro, e tem tudo para ser o próximo campeão do UFC. As pessoas que ajudaram estão de parabéns, foi um trabalho muito bem feito. O Cigano é um atleta que está preparado para ser um campeão do UFC. Ele não teve luta fácil, lutou com os melhores e hoje merece lutar pelo título. É o sonho dele, é o meu sonho, e vamos com tudo. Vamos para ser campeões, se Deus permitir.
Você ficou surpreso pelo fato do Shane Carwin ter conseguido voltar depois do sufoco que ele passou no primeiro round?
O UFC só tem atletas duros, e ele é um grande atleta, se preparou muito melhor. Ele mostrou que tem um coração muito grande porque na luta anterior ele teve que mostrar uma boa condição física, mas nessa foi coração. O Cigano castigou bastante o atleta, o árbitro deixou a luta correr, mas poderia ter parado também porque o atleta ficou passivo por mais de 20, 30 segundos. Ele poderia parar a luta, e a gente entrou no córner e avisou que se um golpe entrasse e o atleta ficasse parado, ele pararia a luta.
Foi muito melhor, porque mostrou o poder de superação do Shane Carwin, apesar estar machucado. Antes de eu voltar para o Brasil, eu encontrei com ele e ele estava muito machucado. Então ele realmente mostrou que é um guerreiro, um grande atleta, merecedor de ter lutado toda a luta, e o Cigano pela superioridade, velocidade e mostrando a sua grande arma: além de ser um grande lutador e um dos melhores Boxes do MMA, mostrou seus movimentos de chute com a perna da frente, mostrou uma belíssima defesa de queda.
Esse foi o trabalho feito pelo Yuri e o Paulão aqui na Bahia. O Yuri é a pessoa do nosso Jiu-Jitsu. Ele mostrou chutando, defesas de quedas boas, então mostrou realmente uma evolução dele. O Boxe, todo mundo já espera dele, mas ele realmente surpreendeu no final, defendeu bastante as quedas. E, no final, surpreendeu o Shane Carwin, que é um excelente wrestler, com duas quedas. Duas tentativas e 100% de aproveitamento.
Sobre a trocação dele, muita gente dizia que o Overeem é o melhor striker nos pesos pesados hoje. Você concorda com isso ou você acha que o Cigano é superior?
Eu confio muito no meu garoto. Para mim, o melhor striker do mundo se chama Junior Cigano dos Santos. Nós precisamos valorizar os nossos atletas do Brasil. Em todas as apostas no mundo todo, o Cigano é o maior nome, então a gente tem que acreditar nos nossos atletas. O Cigano hoje é indiscutivelmente um homem preparado, um garoto muito humilde e está em fase de evolução.
Eu sempre repito: o Cigano é muito jovem. Ele tem cinco anos de MMA e ele está evoluindo muito, mas já é um atleta maduro, muito experiente e tem muita garra. O Overeem também é outro campeão na trocação, mas no todo, não. Isso é MMA, então tem que ver essa transição, quedas e tudo mais. Mas, enquanto striker, eu não tenho dúvidas de que o Cigano nocauteia o Overeem, só falta oportunidade. Eu acredito muito no MMA do Brasil e acredito muito no MMA do Cigano.
E por falar dos seus atletas, o que você achou da evolução do Demian Maia em pé nessa luta contra o Mark Muñoz, onde ele mostrou uma trocação bem melhor do que ele vinha mostrando antes no UFC?
Demian é um especialista em Jiu-Jitsu, mas está procurando sempre melhorar. O Demian é uma pessoa muito boa, um exemplo de atleta, um rapaz de família, muito humilde... O Demian vai para Chicago treinar Wrestling, vem para a Bahia treinar Boxe, treina Jiu-Jitsu em São Paulo, e hoje é um dos grandes atletas do mundo de Jiu-Jitsu e de MMA, e eu fico muito contente em ver a evolução dele em muito pouco tempo.
Eu estou com o Demian há uns dois anos. Nesses dois anos, o Demian fez quatro ou cinco lutas. Para cada luta que o Demian faz, ele treina comigo um mês. Então, o atleta evoluir em dois anos, mas treinando comigo seis ou sete meses só, mostra que o garoto evoluiu muito. Pouco a pouco, ele vai ganhando a confiança e tem que armar um esquema de luta taticamente favorável.
Infelizmente, no segundo round, ele não conseguiu manter a mesma tática do treinamento. Mas o Demian, com essa luta, amadureceu muito. Eu conversei com ele e ele sabe que evoluiu muito. Ele ainda não tem o controle em cima, mas está melhorando, é um atleta que quer melhorar. Eu fiquei triste pela derrota porque ele trabalhou muito duro por três meses, saiu de São Paulo, abdicou da família, foi para Chicago treinar Wrestling, veio para a Bahia na fase final treinar Boxe comigo... Então agora a gente está mudando um pouco o treinamento. Antes do trabalho final, ele vai vir umas vezes para a Bahia fazer o trabalho de base.
A evolução dele foi muito grande. Fiquei feliz pela evolução e triste pela derrota. Foi uma luta muito equilibrada, ele buscou a luta, venceu o primeiro round, mas tiveram árbitros que deram contra ele, e é uma pena porque o Demian venceu muito claramente... E o Muñoz, no segundo e terceiro rounds, jogou com o regulamento. Isso é o que a gente tem que rever em relação aos árbitros.
Qual era a estratégia para a luta?
O que eu imaginei para a luta? ‘Demian, ele vai querer trocar com você. Você tem que ficar muito esperto em cima, trabalhando nas pernas, no vai e vem, golpes retos e vamos surpreender porque o Muñoz é muito forte’. No primeiro round, o Demian cumpriu certinho o planejado. No segundo round, ele entrou para jogar para baixo, e a gente queria que ele usasse a técnica, o vai e volta do Boxe que ele sabe fazer, pois ele evoluiu muito tecnicamente. Ele mostrou isso no primeiro round.
No segundo round, ele foi tentar colocar para baixo, e não foi acordado isso. O Muñoz ficou ali clinchando e a luta terminou assim. Mas eu estou muito contente pelo desenvolvimento do Demian, triste com a derrota, mas o trabalho continua. Nós aprendemos muito mais na derrota, mas o Demian continua entre os tops e vamos buscar o que ele mais almeja.
Como você vê as críticas que tem sido feita em relação ao Demian não ter procurado usar tanto o Jiu-Jitsu dele, que trouxe as primeiras vitórias dele no UFC? Muitas dessas críticas são direcionadas a você, falando que você tem “estragado” o Demian, levando ele para a trocação... Como você vê isso?
Eu fico muito triste. Eu sou um treinador que tenho muita experiência. Eu fico muito triste com os anônimos que falam isso. O Demian, em pouco tempo, evoluiu no Boxe. Em dois anos, ele se encontrou comigo seis meses. Para essa luta, ele ficou comigo só um mês. Demian continua tendo como seu carro chefe o Jiu-Jitsu. Demian tem uma grande equipe de Jiu-Jitsu, é um dos grandes atletas, tem um treino de alto nível em São Paulo. O Wrestling de Chicago com os cubanos, que são grandes profissionais.
Ao contrário. A gente usa o Boxe para que ele consiga fazer o jogo dele, todo o Boxe e o Wrestling dele são focados para levar a luta para o chão, que é seu carro chefe e sempre será. Eu fico muito sentido com isso. Eu sei que são anônimos, sei que é uma minoria, mas nós estamos trabalhando para que o Demian consiga voltar a finalizar. Os caras do UFC não querem lutar no chão, e o regulamento ajuda esses caras, então o Demian busca a luta, quer colocar para baixo, mas não é fácil colocar um wrestler para baixo.
Ninguém quer colocar o Demian para baixo. O Demian é o maior representante do Jiu-Jitsu no MMA, junto com o Rodrigo Minotauro. Mas não é fácil, ao contrário. Em dois anos, o Demian evoluiu muito. Graças a Deus, ele está evoluindo muito no Boxe e vai voltar a finalizar, claro. Quem vive no mundo da luta, sabe que isso tudo acontece. Muitas vezes, quem fala essas coisas são pessoas que não vivem no mundo da luta, então fazem comentários às vezes sem pensar.
O Demian é uma pessoa humilde, que sempre busca melhorar, está em uma das melhores equipes de Jiu-Jitsu do Brasil, tem uma grande origem, tem vários títulos. O pouco tempo que está no Boxe, já lhe deu confiança. Hoje o Demian não é mais um atleta de Jiu-Jitsu, ele é um atleta de MMA. O começo do MMA foi o Jiu-Jitsu, e o Demian Maia está ficando cada vez mais maduro, tem muito coração, está ficando completo e está evoluindo. O Brasil tem que acreditar mais no Brasil, é isso que nos falta: acreditar mais na gente.
Mas tudo bem, eu continuo o meu trabalho o meu Boxe com o Demian, não é um Boxe para ir para a trocação franca, mas um Boxe para levar para o chão, um Wrestling ofensivo. Quem vive no nosso mundo sabe... O Demian é muito profissional, e vai voltar a finalizar, que é o normal, mas muitas pessoas fazem o anti-jogo.